ResumoAlinhado com uma história da religião e da cura no sudeste da África, o pentecostalismo brasileiro em Moçambique criou condições para uma mobilidade em termos culturais e espirituais. Argumenta-se, assim, que o pentecostalismo transnacional estimula as mulheres, com uma mobilidade socioeconômica ascendente, a desenvolverem sua posição crítica em relação às culturas locais. Mulheres moçambicanas que participam das igrejas pentecostais brasileiras tornam-se transnacionais, embarcam em uma viagem em que se confrontam com percepções, valores e práticas socioculturais, pois atravessam subjetivamente as fronteiras nacionais, na medida em que criticam e se distanciam de certas formas de conhecimentos culturais e espirituais locais. Assim, o pentecostalismo brasileiro, em Moçambique, contribui para uma consciência cultural crítica das mulheres e para uma desestabilização da continuidade cultural, tornando-se pessoas "estrangeiras" dentro de sua própria sociedade. Nesse sentido, mulheres pentecostais não necessariamente respondem a situações de mobilidade, tal como ocorre nos processos de globalização, mas, ao contrário, criam mobilidades socioculturais através do poder do Espírito Santo para conquistar novos modos de ser e fazer, em particular nas áreas de gênero, parentesco e casamento.
Abstract Based on ethnographic research carried out in Maputo, the capital of Mozambique, this contribution argues that transnational Pentecostalism and especially its South-South or Brazil-Mozambique links are crucial to understanding upwardly mobile women's Pentecostal involvement. In line with a history of religion and healing in Southeast Africa that have shaped conditions to become more mobile culturally, spiritually and socio-economically, transnational Pentecostalism stimulates upwardly mobile women to develop their critical position towards local cultures. Mozambican women who participate in the Brazilian Pentecostal churches become transnational because they cross national boundaries subjectively by criticizing and distancing themselves from local forms of cultural and spiritual knowledge. Brazilian Pentecostalism in Mozambique contributes to a critical cultural awareness and a destabilization of cultural traditions by making people an 'outsider' in their society. In this sense, Pentecostal women do not necessarily respond to situations of mobility, such as processes of globalization, but instead create mobility. Their participation in transnational Pentecostalism generates the power of the Holy Spirit to conquer new modes of being and doing, particularly in the fields of gender, kinship and marriage.